terça-feira, 7 de junho de 2011

ONU reconhece que não conseguirá cumprir prazo para substituir Quioto

07/06/2011
Autor: Fabiano Ávila   -   Fonte: Agências Internacionais


As negociações climáticas internacionais não tem mais como evitar que depois do término do Protocolo de Quioto, em dezembro de 2012, exista um período que o planeta ficará sem nenhum tipo de acordo para limitar as emissões. Isto porque para adotar novas metas com a mesma força legal os países devem passar essas decisões pelos seus parlamentos, o que levaria mais tempo do que o disponível.
“Mesmo se acontecer um consenso sobre um texto legal, seria preciso realizar alterações no Protocolo de Quioto, o que requere a ratificação de três quartos dos signatários e não há mais tempo para isso entre Durban e o fim de 2012”, declarou Christiana Figueres, presidente da UNFCCC.
Na realidade, é muito improvável que a Conferência do Clima (COP 17) em Durban, em novembro, termine em consenso.
Agora, os principais objetivos das negociações devem ser mobilizar ações e financiamentos voluntários para combater o aquecimento global.
“Os países perceberam  que enfrentarão um período sem regulamentação e estão estabelecendo maneiras para lidar com isso”, afirmou Figueres.
Segundo o negociador chefe da União Européia, 2014 ou 2015 são datas mais prováveis para um novo acordo. “É uma previsão mais realista, mas se os países chegarem a um consenso antes disso, a Europa está pronta para apoiar”, disse Artur Runge-Metzger.
Os mercados de carbono devem sofrer bastante com esse período sem um acordo global, já que metas obrigatórias deixarão de existir e assim a demanda por créditos tende a cair.
De acordo com o Banco Mundial, o comércio de créditos já está enfraquecido, tendo registrado em 2010 pela primeira vez na história uma retração, com seu valor total caindo 1,4% para US$ 142 bilhões.

Rodada climática começa envolta em péssimas notícias

06/06/2011   -  
Autor: Fabiano Ávila   -   Fonte: Agências Internacionais/UNFCCC

Diplomatas reunidos em Bonn são obrigados a encarar a realidade do recorde de emissões de gases do efeito estufa em 2010 e que o prometido financiamento para a mitigação e adaptação ao aquecimento global não saiu do papel



Todas as rodadas de negociação climática são complicadas, afinal não é fácil fazer com que representantes de quase 200 países cheguem a se entender quando o interesse de cada nação está em jogo. Porém, o atual encontro que teve início nessa segunda-feira (6) em Bonn, na Alemanha, parece que está marcado para ser um dos mais difíceis já realizados pela ONU.
Isto porque a falta de ações mais concretas para lidar com as mudanças climáticas está começando a aparecer, com a divulgação de dados alarmantes sobre emissões, preço dos alimentos e falta de financiamento que não podem mais ser disfarçados ou ignorados.
Na semana passada, a Agência Internacional de Energia (AIE) publicou um relatório que demonstra que as emissões de gases do efeito estufa chegaram a 30,6Gt em 2010, um recorde histórico. Um dos significados desse número é que a queda nas emissões registrada em 2009 não foi fruto de ações climáticas, mas da simples retração na produção industrial por causa da crise econômica.
“Depois de quase duas décadas de negociações com o objetivo de limitar as emissões, nós ainda assim temos que encarar que elas estão subindo e alcançando níveis recordes”, disseram decepcionados Antônio Lima, embaixador de Cabo Verde e Pa Ousman Jarju, líder do bloco dos países menos desenvolvidos. 
A ONG britânica Oxfam também apresentou um estudo importante, no qual afirma que os preços de alimentos básicos devem mais do que dobrar em 20 anos. Até 2030, o custo médio de colheitas consideradas chave para a alimentação da população global vai aumentar entre 120% e 180%. Pelo menos metade desse aumento seria relacionada às mudanças climáticas.
Para finalizar a lista de péssimas notícias, o World Resources Institute (WRI) avaliou as promessas e ações de financiamento climático dos 21 países mais desenvolvidos do mundo e mostrou que pouca coisa saiu do papel. Dos US$ 30 bilhões prometidos há 18 meses na Conferência do Clima de Copenhague, apenas US$ 12 bilhões já foram previstos de verdade nos orçamentos dos governos e desses somente cerca de 30% foram liberados.
“Estamos abatidos diante dos impactos negativos das mudanças climáticas. Os países mais vulneráveis estão sob grande pressão, tanto do clima quanto da pobreza. O dinheiro do financiamento deve começar a ser distribuído o quanto antes para ajudar pessoas na Ásia, África e América Latina”, afirmou ao jornal britânico The Guradian um negociador que não quis se identificar.
Entraves
Apesar de todos esses fatores indicarem que é hora de união e mobilização, pouco se espera da rodada de Bonn. Muitos países importantes estão enfrentando situações que não favorecem que este seja um momento de generosidade.
Diversas nações europeias, como Espanha, Portugal e Itália estão enfrentando crises econômicas, que já refletiram nas políticas de subsídios para energias renováveis e que provavelmente vão levar ao aumento de emissões.
Outros países, como Japão e Alemanha, estão revendo sua política energética em virtude do desastre na usina nuclear de Fukushima. A tendência é que a utilização de energia nuclear seja reduzida progressivamente, levando também, em um primeiro momento, ao aumento das emissões.
Já nos Estados Unidos o problema é a divisão sobre que importância dar ao aquecimento global. Tentativas de leis climáticas não conseguiram ser aprovadas e as inciativas de mercados de carbono ainda enfrentam muitos obstáculos. O mais promissor deles, o da Califórnia, pode ficar na geladeira mais um ano.
Para piorar ainda mais a perspectiva de avanços em Bonn, existe o grande racha com relação ao Protocolo de Quioto.
Durante o último encontro dos países integrantes do G8, Estados Unidos, Canadá, Rússia e Japão afirmaram que não assinarão a extensão do tratado.
Por sua vez, o bloco do BASIC, formado por Brasil, África do Sul, Índia e China, também se reuniu e decidiu defender uma posição unida pela extensão do Protocolo.
Assim, a rodada de Bonn tem tudo para ficar estagnada por causa do conflito entre países ricos e emergentes.
Cumprindo o que talvez seja o seu papel, a presidente da UNFCCC, Christiana Figueres, se disse otimista para o encontro. “Eu vejo duas tendências encorajadoras. Países, incluindo as maiores economias, estão promovendo políticas de baixo carbono, mesmo que não as estejam rotulando de ‘climáticas’. A outra linha vem da iniciativa privada, que cada vez mais está interessada em participar da nova economia verde e da geração limpa de energia.”
A rodada de Bonn vai até o dia 17 de junho e é a última antes da grande Conferência do Clima de Durban (COP 17).
Imagem: Jan Golinski / UNFCCC.