domingo, 27 de novembro de 2011

Aumento da temperatura global é inevitável, dizem especialistas

Fonte: Ângela Joenck/ Portal Terra

Em setembro passado, a camada de gelo que cobre o Oceano Ártico chegou ao seu nível mais baixo desde 2007, com 4,4 milhões de km². Foi a menor extensão da camada desde que as medições começaram há 40 anos, apresentando 40% menos gelo em comparação com os anos 70 e 80. A situação é considerada grave pelos especialistas, como o chefe do Instituto de Impacto do Clima da Universidade de Potsdam, Stefan Rahmstorf, que afirmou recentemente que a camada de gelo pode desaparecer do oceano ártico nos próximos 15 anos.
Alguns dos fatores para o degelo são naturais, conforme explica a PHD e professora do Departamento de Oceanografia Física da USP, Ilana Wainer. “Variações climáticas são parte da evolução natural do planeta, função da variação de parâmetros orbitais como a distância terra-sol, a inclinação do eixo da terra e a constante solar”, explica a especialista.
Segundo Wainer, a Terra completa um ciclo de precessão a cada 26 mil anos, e ao mesmo tempo, existem variações da inclinação do eixo da Terra, que oscila entre aproximadamente 22,1 e 24,5 graus num ciclo de 41 mil anos. “A elipcidade da órbita da Terra também varia e, combinada com a precessão, dá origem a um ciclo de 21 mil anos. As variações dos parâmetros orbitais (ecentricidade) estão associadas a ciclos de 100 mil anos. Esses ciclos são conhecidos como os ciclos de Milankovitch e afetam a quantidade de radiação que chega ao planeta Terra, e consequentemente, induzem as variações climáticas ‘naturais”, diz.
Mesmo assim, para a professora da USP, o homem tem sua parcela de culpa no processo. “Hoje, devido à atividade industrial e ao aumento das emissões dos gases do efeito estufa, estamos vivenciando um aumento da temperatura global a taxas nunca antes observadas. É esse aquecimento acelerado que está causando o rápido degelo no Ártico. Eras glaciais e interglaciais sempre ocorreram, mas o impacto do homem acelerou esse processo e hoje, a taxa de degelo observada pode ser atribuída fundamentalmente ao aquecimento global”, afirma.
Para o doutor em Glaciologia e coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia da Criosfera, Jefferson Simões, o degelo do Ártico não faz parte de processos naturais e não há muito que possa ser feito no momento. “Todas as evidências e o histórico que temos sobre a variabilidade do mar congelado do Ártico, e temos história dos últimos 4 séculos, mostram que trata-se de um fenômeno único e muito rápido.
“Estamos observando as mais rápidas modificações na extensão do mar congelado no mundo”, diz Simões, que lembra que o degelo do ártico não afetará o nível das águas, pois não se tratam de geleiras e sim do próprio mar. “Mar congelado ao derreter não afeta nível do mar, pois o gelo já está flutuando na água, é o princípio de Arquimedes. Assim, o degelo afeta o clima, mas não o nível do mar”, explica. “No momento, a gente já iniciou esse processo de mudanças do clima, e essas mudanças estão sendo aceleradas, principalmente no Ártico. Como nós já mudamos a composição química, esse processo vai ocorrer nos próximos 50, 60 anos, mas do jeito que está no momento, não faz muita diferença”, diz o especialista.
Ilana Wainer, da USP, concorda. “A quantidade atual da concentração de gases do efeito estufa é tal que o aumento da temperatura global é inevitável. O mais grave é a rapidez da taxa de aumento da temperatura. Mesmo que haja uma diminuição drástica das emissões de gases para a atmosfera, esta continuaria a esquentar durante pelo menos 50 anos, e há previsões de que a estabilização da temperatura global demoraria até um século”, afirma a professora. Para ela, a única coisa a ser feita é começar a agir imediatamente na redução da chamada “pegada de carbono”, usando transporte público, bicicletas, sacolas reutilizáveis, economizando energia e água e sendo absolutamente consciente do meio-ambiente e natureza que nos cerca. “Exigir políticas publicas que protejam o meio ambiente, terrestre e marinho, investimentos em energias alternativas e transporte público eficiente e de qualidade, inclusive com ciclovias”.
Já Simões lembra que certos impactos serão inevitáveis. “O pessoal acha que as respostas do ambiente são imediatas. Muitas das mudanças ambientais que nós estamos vivendo hoje são consequência dos últimos 100 anos. É claro que tem que evitar o aumento das emissões dos gases estufa. Mas não é possível ter uma sociedade de 7 bilhões de indivíduos sem deixarmos pegada de carbono”, conclui.

Pnuma diz que só “milagre” estabelecerá novo Protocolo de Kyoto

Fonte: Portal G1

O diretor-executivo do Programa da ONU para o Meio Ambiente (Pnuma), Achim Steiner, disse que somente por um “milagre” seria estabelecido um novo Protocolo de Kyoto na 17ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP-17) de Durban, na África do Sul.
“Sabemos que não será feito um segundo Protocolo de Kyoto em Durban, isso seria um milagre”, afirma Steiner, alemão de origem brasileira, em seu escritório da sede do Pnuma em Nairóbi.
O diretor considera prioritária a renovação do protocolo, um acordo juridicamente vinculativo adotado em 1997 na cidade japonesa de Kyoto que fixa objetivos para reduzir a emissão de gases causadores do aquecimento global, já que é “o barômetro político mais importante” da luta contra a mudança climática.
No entanto, Steiner ressalta que alcançar essa meta será “um dos assuntos mais complicados” em Durban, onde representantes de quase 200 países se reunirão de 28 de novembro a 9 de dezembro para debater sobre mudança climática.
A conquista desse objetivo é urgente porque o período de vigência do Protocolo de Kyoto expira em 2012, enquanto os negociadores consideram, entre outras soluções, o chamado “Kyoto adicional”, que estabelece um segundo período de compromisso como parte de uma transição para um marco global legalmente vinculativo.
Na COP-15, lembra Steiner, “o mundo perdeu a oportunidade de uma transição suave entre Kyoto 1 e Kyoto 2″, o que representou um grande fracasso.
“Os mesmos fatores que impediram chegar a um acordo em Copenhague continuam presentes”, adverte o chefe do Pnuma.
Os Estados Unidos, o maior emissor de CO2 do mundo, continuam sem ratificar o acordo de Kyoto e a China não é obrigada a segui-lo por ainda ser considerada um país em desenvolvimento.
Para Steiner, o “desafio histórico” é fazer com que os dois países possam aderir ao protocolo, já que são “responsáveis por 40% das emissões do planeta”, embora “não estejam, por enquanto, em condições de colaborar e avançar nesse assunto”.
Os negociadores em Durban enfrentarão outro desafio complicado: a capitalização do novo Fundo Verde para o Clima, que deve servir de ajuda aos países mais pobres para suportar o custo da luta contra a mudança climática.
Na cúpula do ano passado na cidade mexicana de Cancún (COP-16), os países se comprometeram a arrecadar US$ 100 bilhões por ano a partir de 2020 para custear esses gastos, embora a fonte desse financiamento ainda tenha que ser determinada.
No entanto, Steiner reconhece que “o fato de isso ocorrer em meio a uma crise financeira não é ideal”, já que “é um fundo difícil de aumentar nesse momento”.
“A ampliação do fundo pode ser difícil pela crise financeira, mas é uma plataforma para que o mundo trabalhe unido frente à mudança climática dos próximos 20 ou 30 anos”, considera Steiner.
Questionado se falta liderança política para impulsionar esse processo, o chefe do Pnuma diz que aprecia as iniciativas de alguns países e cita como exemplo o Brasil, o México e a União Europeia (UE).
“O Brasil demonstrou liderança ao reduzir o desmatamento na Amazônia. E a UE já cumpriu seu compromisso de diminuir as emissões em 20% até 2020″, explica o diretor-executivo do Pnuma.
Steiner destacou também o “extraordinário esforço de liderança” do presidente mexicano, Felipe Calderón, na cúpula de Cancún, onde sua diplomacia “chegou a todo o mundo”.
Apesar dos impedimentos previstos para a cúpula sul-africana, o responsável do Pnuma não vislumbra um cenário de “fracasso total”, já que as expectativas são mais modestas do que em reuniões anteriores e ninguém espera nesse momento nenhum “avanço histórico”.
“O que Durban deve conseguir é confiança, porque haverá pressão para demonstrar que o processo de negociação internacional da mudança climática mantém sua relevância e legitimidade”, concluiu.