sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Chevron tem 150 dias para financiar auditoria ambiental em suas instalações no RJ

Fonte: Jornal do Commercio
Data: 08/12/2011 16:23
A exigência foi feita pelo Instituto Estadual do Ambiente (Inea), que também determinou à companhia que assegure aos órgãos públicos de fiscalização recursos e instrumentos de monitoramento de suas atividades de extração de petróleo na Bacia de Campos, ao longo de dois anos.

O anúncio foi feito na terça-feira (3) pelo secretário do Ambiente, Carlos Minc, em coletiva à imprensa, ao lado da presidente do Inea, Marilene Ramos, e do superintendente do Ibama no Rio de Janeiro, Adilson Gil. Além disso, no início da próxima semana, a Procuradoria Geral do Estado (PGE) entrará com ação de reparação contra a Chevron, devido ao impacto causado pelo derramamento de óleo a cerca 66 espécies marinhas. O valor da indenização a ser proposto na ação é de R$ 150 milhões.

- Todas as medidas estão sendo elaboradas e executadas juntamente com o Ibama. Estamos nos baseando nos princípios da prevenção, precaução e reparação para barrar a impunidade ambiental - disse o secretário, que apresentou aos jornalistas um mapa da região da Bacia de Campos mostrando a evolução da mancha de óleo e as espécies marinhas afetadas.

Segundo Minc, a Chevron será obrigada a apresentar relatório de auditoria ambiental referente aos planos de Emergência Individual em cada uma das suas unidades, em terra ou no mar. O custo aproximado da auditoria é de R$ 5 milhões. O não-cumprimento desta determinação configurará infração prevista na Lei estadual n° 3.467/00, podendo a empresa, entre outras penalidades, ser multada em até R$ 50 milhões.

- Esse acidente nos trouxe uma série de perguntas: será que temos as melhores tecnologias? O que aprendemos com o episódio do Golfo do México, no ano passado? Como faremos para garantir que as informações apresentadas pela empresa sejam fidedignas? A Chevron será a primeira a ser auditada, mas notificaremos as demais petrolíferas - afirmou Marilene Ramos.

Em no máximo 60 dias, a empresa deverá adotar sistema de monitoramento capaz de fornecer ao Inea um mapeamento de até 20 quilômetros no entorno da plataforma. O sistema será composto de uma câmera e sistema gráfico eletrônico. Fica facultada ao Inea a solicitação de dados adicionais.

Minc informou ainda que até terça-feira da semana que vem (13/12) a PGE dará entrada em ação civil pública de reparação de danos causados ao meio ambiente. A proposta feita pelo Inea se baseia, entre outros dados, no laudo técnico do Ibama, que define como grave o vazamento ocorrido na Bacia de Campos, e em um mapa da área atingida apresentado pela própria empresa, que aponta a dimensão da mancha e as espécies da região.

- O acidente ocorreu a 110 quilômetros da costa, mas a mancha expandiu-se por cerca de 250 quilômetros a sudeste. Segundo dados da Chevron, esta área é habitat de 66 espécies marinhas, entre baleias, tartarugas, plânctons e peixes. A Chevron terá que pagar pelo impacto ao ecossistema marinho, aos pescadores e ao ecoturismo dos municípios costeiros - disse.

De acordo com o laudo técnico ambiental do Ibama, um derrame de óleo pode provocar uma série de alterações físicas e químicas nos habitats naturais, ter efeitos letais nos organismos, além de mudanças nas comunidades biológicas.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Energias renováveis: Brasil na mão certa

Da Agência Ambiente Energia - Durante audiência com o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, na quinta-feira, 1 de dezembro, em Brasília, a diretora executiva da Agência Internacional de Energia (AIE), Maria van der Hoeven, elogiou o sucesso dos leilões de compra de energia realizados pelo governo brasileiro, principalmente os de eólica, devido ao volume de projetos associados e a aos preços obtidos. No último leilão de eólica do país, realizado em agosto deste ano, o MWh de energia foi fixado em R$ 99,8 , sendo pela primeira vez mais competitivo que o gás natural.
Maria van der Hoeven destacou a opção do Brasil por manter uma matriz energética baseada em fontes limpas e renováveis e pediu ao ministro que explicasse o funcionamento do modelo brasileiro de leilões que asseguram modicidade tarifária em benefício da população. Ela considerou “impressionantes” os resultados dos recentes leilões, especialmente o de eólica, que chegou a “ preços impensáveis na Europa”, segundo ela.
Informada sobre os resultados do programa Luz Para Todos, que em oito anos levou energia a mais de 14 milhões de brasileiros das áreas rurais, a diretora disse ter ficado impressionada com os números.
Maria van der Hoeven aproveitou a oportunidade para convidar o ministro Edison Lobão a participar do grupo coordenador das atividades programadas para o “2012 Sustainable Energy For All” (Energia Sustentável Para Todos), iniciativa da Organização das Nações Unidas destinada a reduzir a exclusão elétrica no mundo. Dados da AIE revelam que 1,3 bilhão de pessoas vivem hoje sem energia.
A diretora da AIE entregou ao ministro Lobão um exemplar do World Energy Outlook 2001, relatório anual sobre a situação energética mundial, lançado oficialmente no Brasil em solenidade realizada nesta sexta-feira, 02 de dezembro, na sede do Ministério de Minas e Energia.
Maria van der Hoeven referiu-se ao papel de destaque que o Brasil passou a assumir recentemente no cenário energético mundial, “notadamente no que se refere às energias renováveis e limpas”. Destacou ainda as recentes descobertas de petróleo e gás natural na área do pré-sal e elogiou o progresso tecnológico do país na exploração em águas profundas.
Segundo a diretora, a AIE aderiu ao programa “Desenvolvimento Sustentável em Hidroleletricidade”, liderado pelo Brasil no âmbito do Forum Ministerial de Energia Limpa (Clean Energy Ministerial- CEM). Van der Hoeven também acentuou a colaboração entre o MME e a Agência, com apoio do Cepel (Centro de Pesquisa de Energia Elétrica) para a produção do Mapa de Rotas Tecnológicas em Hidroeletricidade.
O ministro Edison Lobão reafirmou o compromisso do Brasil com a produção de energia baseada em fontes limpas e renováveis. A diretora da Agência disse que “o Brasil caminha no rumo certo” e prometeu defender internacionalmente a construção da Usina de Belo Monte. Ela atribuiu as campanhas contra Belo Monte como fruto do desconhecimento do projeto e devido à memória do que ocorreu durante a construção da hidrelétrica de Três Gargantas, na China. (informações do MME)

Brasil quer acordo climático que inclua emergentes pós-2020

Fonte: Valor Econômico
05/12/2011


Por Daniela Chiaretti | De Durban (África do Sul) - A rodada ministerial da conferência do clima começa hoje com dois cenários possíveis de resultado. Um deles é o pior dos mundos - a semana termina sem nenhum acordo e a discussão internacional sobre mudança climática naufraga. O segundo horizonte, tão provável quanto o primeiro, é bem mais promissor: o sistema continua e todos os grandes emissores se comprometem a entrar no jogo, as negociações prosseguem até 2015, e em 2020 o mundo chega, finalmente, a um acordo forte e ambicioso para reduzir os efeitos e adaptar-se à mudança do clima. Seja como for, Durban não será uma conferência insossa.

O primeiro cenário é o que está sendo chamado de "wild west" por delegados reunidos no Inkosi Albert Luthuli International Convention Centre (ICC), onde acontece a CoP-17. É o que deixa o mundo sem lei, no campo da mudança do clima. "É a desconstrução do esforço de um tratado sobre mudança do clima no plano multilateral", disse ao Valor o embaixador Andre Corrêa do Lago, chefe dos negociadores brasileiros em Durban. "É um desastre".

Isso pode acontecer se o encontro de Durban terminar sem que os países desenvolvidos se comprometam com cortes nas emissões de gases-estufa a partir de 2013. Trata-se do segundo período de compromissos do Protocolo de Kyoto. Os países ricos se comprometeram a reduzir em 5,2% os gases-estufa em relação aos níveis de 1990 entre 2008 e 2012, o primeiro período de Kyoto. Isso termina em 2012 e o mundo não tem nada para colocar no lugar. Se a conferência de Durban terminar sem a lista de novos compromissos de cortes, não haverá tempo para os países aprovarem algo para os anos seguintes e cria-se um vácuo. A hora é agora.

A continuação de Kyoto é ponto-chave para o mundo em desenvolvimento. O fato de Japão, Canadá e Rússia terem já manifestado que não aceitam o segundo período é desagradável, mas não impede que Kyoto continue sobrevivendo. Basta que a União Europeia concorde em fazer novos cortes. A UE já disse que aceita, se outros a seguirem. Os "outros" são os grandes poluidores que estão fora do jogo: os EUA (que nunca assinaram Kyoto) e a China, que, como país em desenvolvimento, estava fora também. Os EUA são o maior emissor do passado, e a China, do futuro. Nenhum acordo faz sentido sem eles. O tratado que o mundo precisa inclui também a União Europeia e emergentes como Brasil, Índia, Indonésia e África do Sul, para citar os principais atores.

Mas há também a possibilidade de a negociação progredir. "O melhor cenário possível de Durban poderá ser muito ambicioso", diz o embaixador. "Isso depende de um equilíbrio na negociação". Neste contexto, Kyoto continua, com novos compromissos das nações ricas, o que deixa satisfeito o grupo dos países em desenvolvimento. Não é pura birra. Kyoto tem uma arquitetura que distribui a conta das emissões, instala mercados de carbono, permite que projetos de energia limpa sejam feitos em países carentes.

Ao mesmo tempo em que se dá sobrevida a Kyoto, acerta-se a continuidade do processo - que os europeus chamam de "mapa do caminho" de Durban.

Neste roteiro, o Brasil defende um "período de implementação", que iria até 2015, o que daria tempo para o novo acordo incluir as recomendações do próximo relatório do IPCC, o braço científico da ONU, que deve sair entre 2013 e 2014. Também seria possível avaliar, nesta fase, se a estratégia de adaptação está funcionando, se o acordo de transferência de tecnologia acertado em 2011 irá decolar, se os países em desenvolvimento conseguirão medir e verificar o rumo de suas emissões.

Entre 2015 e 2017 os países negociariam o novo acordo, incluindo os grandes emissores, e que entraria em vigor em 2020. Isso tem que ser acertado até sexta-feira.

"Talvez essa negociação funcione se os dois lados forem menos obsessivos com cobranças", diz um delegado. Para o mundo em desenvolvimento, o princípio das "responsabilidades comuns, porém diferenciadas", tem que ser mantido. Mas os emergentes concordam em reduzir emissões e participar de um acordo único, desde que em parâmetros diferentes daqueles das economias já consolidadas. A China disse em Durban que concorda com um acordo legalmente vinculante depois de 2020, para alegria dos europeus.

Mas este ponto arrepia os delegados americanos que temem se comprometer com algo que seu Congresso não ratifique depois. A Índia também não concorda, Brasil e China são mais flexíveis. Fácil entender a divergência: o Brasil tem 15 milhões de pessoas abaixo da linha de pobreza, a China tem 150 milhões, números que podem ser muito menores em 2020, se a economia continuar vigorosa tanto ali como lá. Na Índia são 800 milhões de pessoas abaixo da linha de pobreza.

Conseguir um acordo internacional legalmente vinculante é ponto importante para os europeus, mas pouco provável de acontecer diante da resistência dos EUA. Há quem acredite que o único jeito de se chegar a um tratado internacional ambicioso é desviar do que pensam os congressistas americanos sobre mudança do clima.

Lobão ameaça Chevron de expulsão

05/12/2011
"Estamos atentíssimos para que cumpra o papel dela ou será expulsa do Brasil"

Fonte: Itamaraty- sala de Imprensa - Efrém Ribeiro

TERESINA. O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, disse que a empresa Chevron será expulsa do Brasil se não cumprir o seu papel e executar as determinações da ANP (Agência Nacional de Petróleo) após o derramamento de petróleo ocorrido no dia 7 de novembro. Ele destacou que a empresa já foi punida com multa de mais de R$300 milhões:

- A empresa já foi suspensa de fazer novas perfurações em todo o Brasil, embora seja a segunda maior empresa do mundo. Nós estamos atentíssimos para que ela cumpra o papel dela ou então será expulsa do Brasil - disse Lobão, ao participar da inauguração da Subestacão de Energia Poty, no bairro Aroeiras, em Teresina.

O vazamento no Campo de Frade (Bacia de Campos) começou no dia 7 de novembro e a Chevron foi proibida pela ANP de perfurar poços. Mais de dois mil barris vazaram do campo desde então, e segundo o Ibama, ainda vaza o equivalente a meio barril por dia.

Sobre a ameaça do ministro, a Chevron, por meio de nota, informou que "vai continuar avaliando e acatando as decisões do governo brasileiro, assim como mantendo as autoridades e agências reguladoras informadas para garantir que os seus planos e atividades no país estão de acordo com sua a licença de operação".

Código de mineração: limite de 7 anos para início da produção

O ministro disse que o novo Código de Mineração será aprovado estabelecendo um limite de sete anos para que as mineradoras comecem a produzir e gerar riquezas. Segundo ele, a atual legislação não estabelece limites e prazos para que as mineradoras comecem a produzir, o que faz com que as empresas comprem grandes áreas de terra e reservas minerais simplesmente para a especulação:

- O novo código acaba com a especulação. A lei atual não fazia exigências para o minerador. Nós estamos acabando de liberar o novo Código de Mineração, que estabelece os prazos rígidos para os mineradores. A mineradora executa sua tarefa de minerar ou perde a outorga para pesquisa e exploração - disse Lobão.

Ele afirmou que, com a aprovação do novo código, o governo federal vai promover leilões para as reservas minerais, como ocorre hoje com o gás natural e o petróleo.

Segundo ele, serão mantidas as restrições para as mineradoras estrangeiras - que não poderão minerar em áreas de fronteiras do Brasil com outros países, não poderão explorar minérios em áreas indígenas, além de outras condicionantes.

- O capital estrangeiro é sempre bem-vindo ao Brasil. Ele se beneficia das mesmas regras que as empresas nacionais, porém, nós precisamos de conteúdo local e que se constituam aqui como se nacionais elas fossem.

Edison Lobão respondeu "não" duas vezes quando foi indagado se o presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, será substituído pela diretora de Gás e Energia da estatal, Maria das Graças Foster, e se haverá aumento nos preços dos combustíveis.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Os vendedores de vento do sertão

Fonte: Valor Econômico
Data: 01/12/2011 15:52

Pouco a pouco, uma vida nova se esboça para centenas de famílias do sertão nordestino. Castigados pelo clima e o árduo trabalho na roça que os fizeram brutos, mas também fortes, esses homens e mulheres vivem hoje da expectativa de que os ventos continuem soprando. Cabreiros pelo inusitado, mas decididos em realizar seus sonhos de que os filhos tenham uma vida diferente, esses sertanejos se tornaram, literalmente, vendedores de vento.

Mais de 150 mil hectares de terras, de pequenos e grandes proprietários, estão sendo ou já foram arrendadas no Nordeste afora por investidores do setor de energia que vão gerar eletricidade a partir dos ventos. Juntos, esses terrenos vão abrigar cerca de quatro mil torres eólicas com capacidade conjunta para gerar 5.400 megawatts (MW), toda essa energia já foi contratada pelo governo ou por grandes consumidores. Cada uma das torres renderá entre R$ 5 mil e R$ 8 mil por ano aos proprietários que estão arrendando pedaços de suas terras por 25 a 35 anos, prorrogáveis por igual período. Em alguns lugares, como na região do Seridó, no Rio Grande do Norte, o rendimento será ainda maior.

Muitos proprietários já planejam a reforma da casa, a compra de geladeira nova e até de imóveis na cidade para garantir o futuro dos filhos. Vender algo que se pode até sentir tocar a face, mas que não se planta ou colhe, é uma nova realidade.

Lauro Assunção, aos 62 anos, sonha com a "festinha" que finalmente fará para os amigos e família. Sim, vai ter festa em Bodó. Os planos estão traçados. O casarão antigo, avariado pelos anos, vai receber tinta nova. A carcaça do jipe abrigada na falsa garagem vai dar lugar à paixão pela sanfona e aos convivas, dezenas deles, quiçá mais de cem com tamanha família. A garagem será mais ao longe e um carro zero km completará a nova aquarela. Uma das catorze cabeças de gado vai ser engordada e sacrificada. Tudo isso virá com a renda do vento, que sopra tão forte na Serra da Santana, onde fica Bodó, que faz crescer tortos os cajueiros.

O contrato já foi assinado com a Iberdrola, mas ainda é referente ao período de estudos da regularidade dos ventos. Em breve, Lauro espera assinar o acordo pelas torres que ficarão em seus 64 hectares. É bastante terra por aquelas paragens, mas isso não tornou seu Laurinho, como é conhecido, rico. Ele espera mesmo é ganhar dinheiro com as eólicas. Seu pai, com 13 filhos, tinha quase seis mil hectares. Mas era só terra o que tinha. A riqueza não chegou junto e boa parte dos terrenos acabou vendida para grandes proprietários, por preços irrisórios se comparados com os de hoje. Esses novos proprietários terão agora dezenas de torres em suas terras e uma renda milionária com as eólicas da Iberdrola.

Mas isso pouco importa. Lauro faz as contas e acredita que poderá ganhar até R$ 6 mil por mês com o arrendamento de suas terras e isso está de bom tamanho. A nova renda será oito vezes maior do que ganhou no ano passado de aposentadoria. Hoje, ele já recebe R$ 750 por mês da Iberdrola, em uma fase preliminar do contrato, e pela primeira vez, pelo que se lembra, ele e dona Francisca Lúcia, sua esposa, irão às cidades vizinhas comprar roupas e presentes para a festa do Natal. O dinheiro que ganham com a mandioca é muito pouco, apesar dos 80 mil quilos que produz por safra de dois anos.

Não muito longe dali, na vizinha Cerro Corá, o cachorro Tufique parece perceber os bons ventos. Nunca precisou se preocupar em ir à caça dos preás para alimentar seus donos, como o famoso personagem Baleia das Vidas Secas. Mas assim como a cachorra de Fabiano criada na ficção por Graciliano Ramos, Tufique foi o fiel companheiro do dono nos seguidos anos de safra difíceis em que seu Bento Pinto de Albuquerque mal sabia se tinha tido lucro ou prejuízo.

Recentemente, Bento fez as contas sobre os gastos que teve para plantar em um hectare de sua terra e percebeu que gasta muito e lucra pouco, mesmo quando a safra está boa. Mas, na semana passada, recebeu "alguns mil reais", uma quantia que não revela. O dinheiro chegou porque seu terreno foi escolhido pela empresa de projetos Rialma, de Goiás, para que estudos de vento sejam feitos na região. Dona Francisca já dá como certa a compra de fogão e geladeira novos. Bento, aos 55 anos, todos vividos na roça, ainda está incrédulo quanto ao futuro do projeto e se um contrato de longo prazo será mesmo fechado: "Num tenho leitura, mas não sô abestalhado. Temo que vê como vai sê isso".

Muitos dos sertanejos que estão vendendo vento não sabem ler ou escrever e fecham os contratos com as empresas de energia confiando na leitura de outras pessoas. O fio de bigode ainda vale no sertão. Algumas prefeituras no Rio Grande do Norte dão auxílio a famílias e colocam advogados à disposição da população para analisar os contratos e buscar melhorar as condições. Mas na região seca do sul da Bahia que abriga municípios como Caetité, Guanambi e Igaporã, a confiança na palavra tem sido mais comum. É nessa parte do sul do Estado onde vão ficar parques eólicos da Renova e Iberdrola. Só na primeira etapa de construção dos parques da Renova serão colocadas 180 torres. Em todo o projeto da empresa serão instalados 1.100 MW e as primeiras torres já estão sendo colocadas.

Os cataventos gigantes que estão mudando a paisagem do Nordeste ainda fazem os donos de terras, principalmente os pequenos, se sentirem confusos. Muitos temem que, com as torres, possam ser impedidos de cultivar a terra. Mas os empreendedores garantem que, passada a fase da construção, o espaço abaixo da torre pode ser usado normalmente. Os contratos, entretanto, fazem algumas restrições sobre a profundidade do plantio e a altura das plantações.

O que tem assustado os filhos de seu Guilhermino da Rocha, que têm terras espalhadas pelo município de Guanambi, é não poder desistir do negócio. O pai assinou o contrato com a Renova sem consultar a família, que ficou aperreada com os valores da multa se desistirem do contrato. Ninguém fala dessa cláusula do contrato. A muito custo, depois de se perder nos caminhos da comunidade de Curral das Vacas em Guanambi, o Valor encontrou alguém disposto a mostrar o documento. Está lá: R$ 5 milhões é o valor da multa, acrescido dos investimentos em equipamentos e correção. "Não tem como desistir", resume um dos filhos de seu Guilhermino. É confuso também para os sertanejos da Bahia, a forma de correção. Será pela inflação, mas todos acreditam que na medida em que o salário mínimo subir, a renda vai crescer na mesma proporção.

Esse é o tipo de assunto que não causa preocupação em outros proprietários de terra que são autoridades nas cidades. O prefeito de Caetité, José Barreira, vai ter sete torres em suas terras e embolsar R$ 38.500 por ano e não tem nenhum questionamento a fazer. Pelo contrário, gaba-se do fato de que a arrecadação do Imposto sobre Serviços (ISS) da cidade vai triplicar. Outra autoridade, o ex-deputado estadual, Márcio de Oliveira, deu ainda mais sorte. Quinze torres vão ficar em seu terreno, em Igaporã. Mas a sorte mesmo se deve à divisão da herança da família. Ele aceitou ficar com o pior terreno, que abrigava parte da serra local e portanto improdutiva, mas que é propícia para gerar energia.

Outros sertanejos que vão ter torres em regiões serranas de seus terrenos, não têm botado fé em que os contratos durem os 30 anos prometidos. Clarindo Pereira da Silva é um desses céticos. Ele é um dos maiores donos de terra de Caetité, junto com seus sete filhos. Vive uma vida simples, toda ela feita da lida da roça. Mas, aos 80 anos, já viu de tudo e questiona: "E se muda o governo? Já vi tanta firma grande quebrar?" Mas no curto prazo, Clarindo vê a vida dos filhos melhorar depois que assinou o contrato com a Renova, que tem entre seus acionistas a Cemig, por meio da Light. O filho João Willi diz que a venda da mandioca ou do leite trazia muita incerteza, já que os compradores acabavam inadimplentes. "Agora, temos um cheque todo mês, que sabemos que vai estar lá".

Na experiência de uma vida inteira na roça, Clarindo vaticina que os ventos estão soprando mais fortemente nos últimos cinco anos. Coisa que deixa Osvaldino Fernando de Souza esperançoso. Ele está na labuta desde os sete anos de idade na cidade de Igaporã, esperançoso de que seus filhos, hoje com dez, nove e sete anos, tenham uma vida mais promissora. Aos 67 anos, Osvaldino foi pai tarde. Perdeu a primeira esposa para o câncer depois de 30 anos de casado, sem nenhum filho.

O contrato de duas torres eólicas, que vão ficar no seu terreno, lhe rende R$ 900 por mês e veio em uma "hora abençoada", pois vai garantir o futuro de seus filhos pequenos e a esposa 35 anos mais nova que ele. "Os filho vão se criá. Já dá pra pagá o pão e tô alegre por isso", diz Osvaldino ao ver que sua terra, adquirida quando tinha apenas 14 anos de idade, agora vai criar seus filhos sem a dureza da vida que teve. "Oitenta conto. E a senhora num imagina a trabalhera que deu pá tê esse dinheiro. Ralando mandioca e tocando o jegue pá moê a ração e dá pru gado, que morria de fome (pela seca)."

O jegue não tem mais função. Foi substituído pela energia elétrica, que só há dez anos chegou à casa de seu Osvaldino por meio do programa Luz Para Todos. "Num dá prá ficá uma hora sem luz que a gente já acha ruim e já fica sem ração pru gado". A reclamação é porque ficou oito horas do dia anterior, sem energia, por uma falha do sistema da Coelba, distribuidora da Bahia. Não tem televisão na sala de seu Osvaldino. A pequena casa de dois quartos, numa das sextas-feiras de novembro em que recebeu o Valor, estava mesmo era iluminada pelas flores vermelhas de um flamboyant no quintal. Oito dias antes, a chuva tinha chegado à cidade e feito florir toda a mata.

Centenas de quilômetros dali, quatro Estados acima no mapa, em Bodó, um flamboyant de igual envergadura também iluminava a casa de seu Laurinho e dona Francisca. "É o profeta do sertão", contou dona Francisca. Se as flores chegam é sinal de que a seca está distante e as chuvas vão abençoar a terra. As águas têm demorado a chegar no sertão este ano, mas os ventos fortes continuam soprando. As profecias do flamboyant, Laurinho não consegue mais ver com nitidez. Está há 30 anos perdendo a visão em função de uma doença congênita que já cegou três de seus irmãos. Talvez ele não possa mais ver chegar a sua casa os convidados para a festinha, quando ela finalmente acontecer. Mas isso não abala esse homem do sertão, que só espera poder tocar a sanfona e dar um aperto de mão nos amigos que chegarem.

ANP manda Chevron fechar poço por produzir gás tóxico em Frade

A ANP (Agência Nacional do Petróleo) abriu um terceiro processo administrativo contra a Chevron após constatar que a plataforma de produção de Frade, na bacia de Campos, estava produzindo gás sulfídrico (H2S) sem o conhecimento da autarquia. O gás vem junto do petróleo no processo de produção, e é altamente tóxico.
A agência determinou o fechamento do poço onde ocorria a produção.
A constatação foi feita na terça-feira da semana passada. Apesar da unidade com o gás estar na mesma área, a plataforma que tinha a produção de gás não é a mesma na qual houve o vazamento de petróleo em novembro --o acidente ocorreu em uma unidade de perfuração.
De acordo com a diretora da autarquia Magda Chombriard, em uma auditoria anterior feita pela ANP, essa unidade não existia.
"Não tinha isso [a produção de gás] registrado na ANP. Isso é um veneno para o trabalhador", disse a executiva nesta quinta-feira, que no momento prossegue nas investigações sobre o acidente na bacia de Campos.
De acordo com ela, além da atuação foi feita também a comunicação sobre o caso ao Ministério do Trabalho.
A agência ainda não definiu se a Chevron será multada devido à produção de gás sulfídrico.
VAZAMENTO
Segundo a diretora da ANP, no momento a preocupação da agência é eliminar qualquer vazamento de petróleo que ainda persiste no local. Paralelamente são mantidas as investigações, que devem ser finalizadas em três meses.
Magda criticou a ausência de equipamentos para emergências no local. "Até agora não entendo como a Chevron não tinha equipamentos para atender a emergências", disse.
A diretora da ANP afirmou ainda que, após a ocorrência do acidente, a Chevron apresentou um plano de emergência, que teve de ser substituído devido à falta de equipamentos para dar prosseguimento à medida.
A agência aguarda a defesa da empresa antes de tomar uma conclusão sobre a multa que será aplicada pela falta de preparo para casos como esse.
"Se ela [a Chevron] provar que um ET levou o equipamento dela, tudo bem, mas acho difícil", ironizou.

Editoria de Arte/Folhapress

VÍDEOS
Magda ainda citou que a empresa não enviou os vídeos completos, e sim editados, sobre o acidente assim que foram solicitados. "Quando solicitamos pedidos 24 horas de imagens, mas vieram 10 segundos. Eles foram autuados sobre isso, mas ainda poderão recorrer", disse.
De acordo com ela, a Chevron ainda não explicou o motivo dessa edição. A empresa pode ser multada após as conclusões das investigações.
PRODUÇÃO
A produção de Frade, segundo Magda, era de 70,5 mil barris por dia em outubro, e não de 79 mil, como a Chevron divulgou.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Vazamento de óleo da Chevron foi falha humana, diz PF

Fonte: Folha, MARCO ANTÔNIO MARTINS - DO RIO

O vazamento na plataforma da Chevron, no Campo de Frade, em 8 de novembro, foi causado por "falha humana". A Polícia Federal tem essa certeza após uma semana de depoimentos.
"Não tenho dúvida de que houve falha humana. Acidente não foi. O que não dá ainda é a quem atribuir ou a quantas pessoas podem ser atribuídas. Isso ainda será descoberto ao longo das investigações", diz o delegado Fábio Scliar, da Delegacia de Meio Ambiente e Patrimônio Histórico, da PF, no Rio.
A certeza do delegado Scliar ocorre após ouvir seis funcionários da Chevron e um da TransOcean.
Também foram chamados a depor no inquérito, um funcionário do Ibama e uma diretora da ANP (Agência Nacional de Petróleo) que como testemunhas auxiliaram em detalhes técnicos.
A PF agora quer saber se no dia em que houve o vazamento havia condições metereológicas para a aplicação do plano de emergência.
Agentes federais já sabem que no dia 15, data em que a PF visitou a plataforma, não havia condições metereológicas para que o plano de contenção da mancha de óleo fosse colocado em prática.
Na ocasião, havia, por exemplo, ondas de seis metros na área da mancha.
A PF espera para os próximos dias os detalhes de como estava o tempo na região do Campo de Frade nas datas de 6, 7 e 8 de novembro. Datas anteriores ao vazamento e no dia do caso.


Editoria de Arte/Folhapress

Outro passo da investigação será responsabilizar as empresas Brasco e Contecom, contratadas pela Chevron para armazenar o óleo retirado do campo de Frade.
Policiais que visitaram o depósito em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, comprovaram que os resíduos estão contaminando a rede pluvial.
O delegado Fábio Scliar recebeu fotos do local que serão anexadas ao inquérito.
Ele não quis fazer comentários sobre as fotografias. Disse apenas que irá analisá-las.
Agentes federais da Superintendência do Rio dizem que há piscinas transbordando óleo e caindo diretamente em ralos que levam à rede.
Também há sacos com material sólido, oleoso, amontoados em um canto do depósito. Alguns com a data para processamento até 29 de setembro de 2011.