06/06/2011      -  
  Autor: Fabiano Ávila      -    Fonte: Agências Internacionais/UNFCCC  
Diplomatas reunidos em Bonn são obrigados a encarar a realidade do recorde de emissões de gases do efeito estufa em 2010 e que o prometido financiamento para a mitigação e adaptação ao aquecimento global não saiu do papel

Todas as rodadas de negociação climática são complicadas, afinal não é  fácil fazer com que representantes de quase 200 países cheguem a se  entender quando o interesse de cada nação está em jogo. Porém, o atual  encontro que teve início nessa segunda-feira (6) em Bonn, na Alemanha,  parece que está marcado para ser um dos mais difíceis já realizados pela  ONU.
Isto porque a falta de ações mais concretas para lidar com as  mudanças climáticas está começando a aparecer, com a divulgação de dados  alarmantes sobre emissões, preço dos alimentos e falta de financiamento  que não podem mais ser disfarçados ou ignorados. 
Na semana passada, a Agência Internacional de Energia (AIE) publicou um relatório  que demonstra que as emissões de gases do efeito estufa chegaram a  30,6Gt em 2010, um recorde histórico. Um dos significados desse número é  que a queda nas emissões registrada em 2009 não foi fruto de ações  climáticas, mas da simples retração na produção industrial por causa da  crise econômica.
“Depois de quase duas décadas de negociações com o objetivo de  limitar as emissões, nós ainda assim temos que encarar que elas estão  subindo e alcançando níveis recordes”, disseram decepcionados Antônio  Lima, embaixador de Cabo Verde e Pa Ousman Jarju, líder do bloco dos  países menos desenvolvidos.  
A ONG britânica Oxfam também apresentou um estudo  importante, no qual afirma que os preços de alimentos básicos devem  mais do que dobrar em 20 anos. Até 2030, o custo médio de colheitas  consideradas chave para a alimentação da população global vai aumentar  entre 120% e 180%. Pelo menos metade desse aumento seria relacionada às  mudanças climáticas.
Para finalizar a lista de péssimas notícias, o World Resources Institute (WRI)  avaliou as promessas e ações de financiamento climático dos 21 países  mais desenvolvidos do mundo e mostrou que pouca coisa saiu do papel. Dos  US$ 30 bilhões prometidos há 18 meses na Conferência do Clima de  Copenhague, apenas US$ 12 bilhões já foram previstos de verdade nos  orçamentos dos governos e desses somente cerca de 30% foram liberados.
“Estamos abatidos diante dos impactos negativos das mudanças  climáticas. Os países mais vulneráveis estão sob grande pressão, tanto  do clima quanto da pobreza. O dinheiro do financiamento deve começar a  ser distribuído o quanto antes para ajudar pessoas na Ásia, África e  América Latina”, afirmou ao jornal britânico The Guradian um negociador  que não quis se identificar.
Entraves
Apesar de todos esses fatores indicarem que é hora de união e  mobilização, pouco se espera da rodada de Bonn. Muitos países  importantes estão enfrentando situações que não favorecem que este seja  um momento de generosidade. 
Diversas nações europeias, como Espanha, Portugal e Itália estão  enfrentando crises econômicas, que já refletiram nas políticas de  subsídios para energias renováveis e que provavelmente vão levar ao  aumento de emissões.
Outros países, como Japão e Alemanha, estão revendo sua política  energética em virtude do desastre na usina nuclear de Fukushima. A  tendência é que a utilização de energia nuclear seja reduzida  progressivamente, levando também, em um primeiro momento, ao aumento das  emissões.
Já nos Estados Unidos o problema é a divisão sobre que importância  dar ao aquecimento global. Tentativas de leis climáticas não conseguiram  ser aprovadas e as inciativas de mercados de carbono ainda enfrentam  muitos obstáculos. O mais promissor deles, o da Califórnia, pode ficar  na geladeira mais um ano.
Para piorar ainda mais a perspectiva de avanços em Bonn, existe o grande racha com relação ao Protocolo de Quioto. 
Durante o último encontro dos países integrantes do G8, Estados Unidos, Canadá, Rússia e Japão afirmaram que não assinarão a extensão do tratado. 
Por sua vez, o bloco do BASIC, formado por Brasil, África do Sul, Índia e China, também se reuniu e decidiu defender uma posição unida pela extensão do Protocolo.
Assim, a rodada de Bonn tem tudo para ficar estagnada por causa do conflito entre países ricos e emergentes.
Cumprindo o que talvez seja o seu papel, a presidente da UNFCCC,  Christiana Figueres, se disse otimista para o encontro. “Eu vejo duas  tendências encorajadoras. Países, incluindo as maiores economias, estão  promovendo políticas de baixo carbono, mesmo que não as estejam  rotulando de ‘climáticas’. A outra linha vem da iniciativa privada, que  cada vez mais está interessada em participar da nova economia verde e da  geração limpa de energia.”
A rodada de Bonn vai até o dia 17 de junho e é a última antes da grande Conferência do Clima de Durban (COP 17).
Imagem: Jan Golinski / UNFCCC.
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