segunda-feira, 30 de julho de 2012

Expansão do biogás só depende de estímulos do governo

Fonte: Carolina Gonçalves/ Agência Brasil 

A inclusão de um novo biocombustível no topo da matriz energética renovável brasileira está dependendo, segundo pesquisadores, de uma sinalização clara do governo para estimular novos estudos e a produção, em escala, do biogás no país. As pesquisas já apontam que o combustível tem potencial para dividir espaço, em grau de importância estratégica para o setor, com o etanol e o biodiesel.

A despeito do otimismo em relação ao potencial do biogás, as pequisas brasileiras ainda seguem em um um ritmo lento, principalmente quando comparadas a cenários como o da Alemanha, que reconhece como estratégico o combustível produzido a partir de resíduos e composto por metano e dióxido de carbono. Apesar da confirmada capacidade do biogás em atender tanto à demanda por energia elétrica quanto à por térmica ou mecânica, em larga escala, as iniciativas brasileiras que poderiam garantir essa produção ainda são tímidas.

Algumas empresas produzem o biogás a partir da decomposição da matéria orgânica de aterros sanitários. No Aterro Sanitário de Gramacho, fechado, recentemente, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, por exemplo, está sendo construída uma usina de biogás que será produzido a partir do lixo e utilizado pela comunidade local, substituindo o gás natural.

Esta semana, foi criado o Centro de Estudos do Biogás, no Parque Tecnológico Itaipu (PTI), em Foz do Iguaçu, no Paraná, com a promessa de gerar informações e dados científicos sobre toda a cadeia de suprimentos do biogás.Ainda no sul do país, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) vem estudando a produção do combustível a partir de dejetos de suínos.

O biogás é visto como componente importante para manter a participação das fontes de energia renováveis na matriz energética do país, diante da expectativa de aumento de demanda por energia. Atualmente, as energias renováveis, tanto a partir de biomassa [etanol, biodiesel e biogás], quanto eólica e solar, respondem por quase a metade das fontes da matriz energética brasileira.

“É preciso que o governo sinalize com uma proposta para este setor, como fez com o biodiesel e com o etanol, desde a regulamentação até a criação de incentivos”, defende Manoel Teixeira Souza Júnior, chefe-geral da Embrapa Agroenergia. Segundo ele, a expectativa não é a de ampliar a participação das energias renováveis, mas, ao menos, manter a relação entre renováveis e não renováveis com o esperado aumento do consumo energético do país.

“Estamos mantendo o foco na biomassa, tanto na desconstrução para produção de energia principalmente de biocombustíveis, como para obtenção de químicos a partir de produtos naturais (plantas) que podem agregar valor à cadeia produtiva, como é o caso do biogás”, disse.

No caso de renováveis a partir de biomassa, o Brasil, apesar de ser um dos líderes do setor, ainda precisa enfrentar alguns gargalos que, se não forem solucionados, podem afetar outras produções como a do biogás. O etanol brasileiro, por exemplo, foi alvo de recente crise, que, segundo especialistas, foi resultada por falhas de planejamento. O número de carros flex produzidos no país foi superior ao estimado e os produtores ainda enfrentaram problemas climáticos que afetaram as safras de cana-de-açucar. O Brasil que exportava passou a necessidade de importar o produto.

Cenários de mudanças não ajudam o equilíbrio da matriz energética

Fonte: Carolina Gonçalves/ Agência Brasil

Apesar de ter conquistado uma matriz energética equilibrada entre fontes de energia renováveis e tradicionais, o governo brasileiro tem se empenhado para manter essa relação diante de um cenário projetado pelo aumento do consumo de energia. Além de garantir a manutenção de sistemas, como o de produção de energia eólica e solar, os pesquisadores buscam novas fontes que poderiam complementar essa oferta para atender a crescente demanda do setor.

A principal motivação do governo para manter esse equilíbrio de fontes na matriz energética é o cumprimento da meta de redução das emissões de gases de efeito estufa. Durante a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas realizada em Copenhague no ano passado, a COP15, o Brasil se comprometeu a reduzir essas emissões entre 36,1% a 38,9% até 2020, em relação ao que emitia em 1990. Entre os setores estratégicos da economia, a energia está sob a mira dos órgãos que se debruçam sobre o problema.

“O setor energético representa a segunda maior preocupação do governo no quesito das emissões de gases de efeito estufa, perdendo apenas para o desmatamento e agropecuária [apontados como os vilões responsáveis por 70% das emissões], explicou Ana Lúcia Doladela , diretora da Secretaria de Mudanças Climáticas e Qualidade Ambiental do Ministério do Meio Ambiente (MMA). O setor energético, desde a produção até o consumo, responde por cerca de 23% dessas emissões. “Uma das formas de reduzir esse impacto é renovar nossa matriz e aumentar nossa eficiência energética”, acrescentou.

Uma das estratégias adotadas pelo Brasil é a aproximação com especialistas europeus. O interesse nas experiências do Velho Continente explica-se pelos esforços e investimentos em pesquisa e produção de fontes alternativas de energia. Ana Lúcia Doladela disse que os técnicos brasileiros têm absorvido conhecimentos e tecnologias européias e acredita que essa relação pode resultar em parcerias estratégicas para o desenvolvimento do setor, ainda em crescimento no Brasil.

“A energia eólica foi estabelecida de forma competitiva. Mas a fotovoltaica ainda é cara e precisa de incentivos para se estabelecer. O ministério têm acompanhado as pesquisas e o governo vem adotando medidas como o estímulo ao uso da fonte solar térmica para aquecimento de água”, disse. A diretora do MMA ainda acrescentou que o país também precisa amadurecer tecnologicamente nas pesquisas sobre energia a partir dos oceanos. “Temos três fontes que são as ondas, mares e correntes marítimas. Ainda precisamos muito investimento em tecnologia”, explicou.

Em relação às fontes renováveis a partir da biomassa, como o etanol e o biodiesel, o Brasil assumiu uma posição de liderança no cenário internacional. Como a tendência é de aumento do consumo de energia no país, pesquisadores brasileiros buscam novas fontes que poderiam complementar essa matriz.

Em Concórdia, Santa Catarina, experimentos com o biogás produzido a partir de resíduos de suínos mostraram, segundo técnicos da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), o potencial do produto tanto para a geração de energia demandada pelas propriedades rurais quanto como fator de agregação de valor à cadeia produtiva.

“Os dados já mostram que o biogás pode se tornar um dos três grandes combustíveis do Brasil. O importante é termos mais fontes, promover o setor e o uso dos resíduos das cadeias produtivas, o que poderia agregar valor a essas produções e atender a demanda crescente por energia no país”, disse Manoel Teixeira Souza Júnior, chefe-geral da Embrapa Agroenergia.